20.12.06

Hells Bells...




A minha visita à nova casa das freiras que praticamente me criaram foi diferente de todas as outras...tinha um Q de despedida, e não da minha parte, mas da parte delas...como se elas soubessem que eu já planejava não aparecer mais lá...estranho, mas eu não quero me preocupar com o misticismo de tudo isso.

O lugar é outro, bem mais frio que o internato anterior, mais moderno, mais colorido, mais triste, e menos cristão. É estranho ter as mesmas conversas, com as mesmas pessoas durante anos, e sempre em um mesmo cenário. Mas é mais estranho quando o cenário muda. O corredor imenso, que depois de alguns anos já me parecia bem menor foi substituído por um corredor estreito, com cheiro de hospital e alvejante...a sala de visita, com cadeiras artesanais não existe. Trata-se agora de uma sala de espera de um pronto socorro...com cadeiras em fileiras e tudo. Aquele lugar não é nem de longe o lugar aconchegante onde eu vivi parte da minha infância, e os melhores momentos dela.

O que pude notar, a única coisa que não mudou, que continua do mesmo jeito, além do olhar, da voz macia e da mão inchada da Irmã Edite, foram os sinos pensdurados na janela do quarto da mesma...isso nunca muda! Olhar para eles fez eu voltar no tempo, sentir o cheiro do mesmo ambiente, lembrar dos meus medos de criança, do teto pintado da capela do convento, da cruz em cima da igreja: toda colorida, psicodélica!, do medo que eu tinha da imagem de São Tomé...e eu podia jurar ter ouvido minha mãe mandar eu parar de tocar aqueles sinos!!!
Um dia a minha memória olfativa me deixa louca!

Foi, acima de tudo, triste...
O convento foi destruído no mês de julho. Junto com ele o parque, o paiol, a sala de música, a sala de artesanato, a capela, a cozinha comunitária, os 6 quartos que abrigavam mães solteiras e o pátio interno...que entre todos é o que mais me faz sentir saudade. Lembrava, ao olhar repentino, o jardim do filme Jardim Secreto. Ele se escondia atrás de uma porta de janelas basculantes que havia no corredor enorme que ligava a capela ao resto do convento...O Jardim Secreto, o Jardim Elétrico...

Nunca mais vou ver... melancolia... e aquele remorso de pensar que, por mais que eu visitasse o lugar, eu deveria ter feito mais.










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